Cirurgias sem sangramento? Restaurações sem anestesia? Sim, já é possível com os lasers de alta potência!
O laser nada mais é do que uma luz com características especiais. A luz branca é a união de todas as cores e pode ser decomposta de acordo com seu comprimento de onda, determinando as várias cores que conhecemos. Para que possa ser utilizada como laser, a luz precisa ser colimada e ter coerência além de ser monocromática. Mas o comprimento de onda não é o único fator que devemos observar para direcionar nossos trabalhos, outro fator importante é a potência. Dependendo da potência utilizada teremos respostas de interação tecidual diferentes, podemos obter fotobiomodulação em baixas potências e vaporização ou ablação em altas potências.
Estas características da luz permitem que ela interaja com células específicas presentes nos tecidos biológicos, tais células são capazes de absorver a luz e transformar a energia luminosa em energia celular ou promover destruição de tecido dependendo da potência utilizada, tais células são chamadas de cromóforos. Quando se fala em laser de alta potência, são cromóforos a melanina, hemoglobinas, porfirinas, hidroxiapatita, água entre outros, e cada cromóforo tem mais afinidade por um determinado comprimento
de onda que para outro.
Diante disso fica fácil entender a importância em saber qual potência será utilizada em nossos trabalhos. Quando utilizamos equipamentos em baixa potência, exploramos todo o potencial fotobiomodulador do comprimento de onda selecionado, enquanto em alta potência e com o comprimento de onda adequado, podemos coagular, ablasionar e vaporizar tecidos, trabalhando assim possibilidades cirúrgicas de uso.
No mercado nacional os equipamentos utilizados em alta potência com comprimento de onda mais utilizados são os na faixa do infravermelho. Mas existem equipamentos com outros comprimentos de onda ainda não
disponíveis por aqui. Esta banda do espectro varia de 700 até 10.000 nm e esta diferença determina qual é o cromóforo que melhor irá interagir com a luz. Comprimentos de onda no espectro do infravermelho próximo (808, 880 e 910nm), interagem melhor com a melanina e a hemoglobina, já comprimentos maiores interagem melhor com as moléculas de hidroxiapatita e água. Com estas informações conseguimos entender por que utilizamos determinado comprimento de onda para cirurgias em tecido mole e outros para trabalhar em tecido duro, tudo depende da composição do tecido e com qual comprimento de onda haverá melhor interação.
Hoje no Brasil, existem dois tipos de equipamentos que trabalham em alta potência, os Laser de Diodos de alta potência e os Laser de Érbios. A diferença básica entre eles é o tipo de tecido em que atuam. Enquanto os diodos (880 e 910 nm) interagem melhor com hemoglobina e melanina, os Érbios interagem melhor com as moléculas de água, sejam elas do próprio tecido ou fornecido pelo spray do aparelho.
Quando aumentamos a potência dos Lasers de Diodo, passamos a ter uma redução do seu efeito fotobiomodulador e passamos a ter uma efeito térmico. Sua afinidade por hemoglobina e melanina, determinam sua indicação primária para tecidos moles, ao mesmo tempo que se promove um corte no tecido (vaporização), faz-se a coagulação, resultando assim em cirurgias praticamente sem sangramento.
Outro resultado desta ação de aumento de temperatura é o favorecimento da descontaminação das regiões tratadas. Mas, mesmo trabalhando com potência de corte (alta potência), ainda temos um efeito fotobiomodulatório residual do comprimento de onda usado (infravermelho), resultando em uma reparação de melhor qualidade, com maior rapidez, com menor edema e diminuição da sintomatologia dolorosa, culminando em um pós operatório muito mais confortável. Esta interação gera bastante calor, então devemos trabalhar com bloqueios de sensibilidade na maioria dos casos, muitas vezes sendo suficiente o uso de anestésicos tópicos.
O outro equipamento que temos disponível para uso em potências mais altas, são aqueles que usam o Érbio como dopante para obtenção do feixe laser. Estes equipamentos trabalham no comprimento de onda de 2980nm, estando localizado no espectro infravermelho. O Érbio possui uma mais
afinidade pelas moléculas de água. Com isso, a energia gerada pelo equipamento, ao interagir com esta molécula, provoca sua implosão (ablação) resultando em remoção do tecido subjacente. Desta forma é possível remover tecido seletivamente, dependendo dos parâmetros utilizados e do tipo de tecido a ser tratado. A entrega da energia é feita em pulsos, podendo ser mais curtos e com mais energia ou mais longos com a energia sendo entregue fracionadamente. Como todos os tecidos contém água, mesmo que em pequenas quantidades, pode-se realizar procedimentos e cirurgias tanto em tecidos moles quanto em tecidos duros, além de termos o mesmo efeito fotobiomodulatório observado nos lasers de diodo, pois ainda estamos trabalhando no espectro do infravermelho.
O resultado da utilização dos Lasers de Érbio dá-se através do controle do sangramento durante os procedimentos cirúrgicos, descontaminação da região irradiada, reparo mais rápido e pós operatório muito mais tranquilo para o paciente.
Outra importante característica do uso dos lasers de Érbio, é a possibilidade de se trabalhar com uso mínimo de anestesia. Tal característica deve-se ao uso do feixe em pulsos controlados. A frequência destes pulsos pode ser tão rápida que o estímulo nervoso não chega a ser reconhecido pelo sistema nervoso, permitindo assim realizar tratamentos praticamente sem dor.
A versatilidade dos lasers de alta potência faz com que possa ser utilizado em todas as áreas da Odontologia. Os procedimentos com menor quantidade de sangue e descontaminação local são extremamente úteis quando pensamos na Periodontia, nas Cirurgias orais menores e maiores e nos tratamentos endodônticos (em especial nos casos refratários). Enfim, em qualquer procedimento odontológico em que estas características sejam um fator de melhora de prognóstico e conforto ao paciente.
A possibilidade de uso de menores quantidades de anestésico e de medicamentos para controle da dor em crianças e pacientes mais idosos, além daqueles com doença pré-existente, fazem destes equipamentos um importante instrumento a ser considerado.
Desta forma, precisamos encontrar formas de obter melhores resultados, com procedimentos menos invasivos e mais biológicos, a Odontologia precisa disso e a saúde dos pacientes também. Os lasers, de uma forma geral, estão aí para nos ajudar nesta jornada, cabe a nós profissionais nos preparamos para extrair o máximo desta tecnologia e fazermos o melhor para nossa profissão.
Autora:
Profª. Adriana Serpeloni
Especialista em Prótese, habilitada em Laser na Odontologia e Professora da IALD.
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